segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Contas do Cerrado para a Rio +20

Contas do Cerrado para a Rio +20

Donizete Tokarski 21 de novembro de 2011 (segunda-feira)

No início do mês, a proposta elaborada pelo governo brasileiro para a Conferência Rio+20 foi enviada à ONU. Em 2012, ambientalistas e chefes de estado do mundo inteiro estarão no Brasil para o encontro. Uma oportunidade para defender o desenvolvimento sustentável no Cerrado, propor novos caminhos e reacender antigas discussões que apontam para sua melhor utilização e preservação, além de expor à toda sociedade a importância deste bioma.

Para nortear o debate é necessário fazer uma contabilidade da atividade agropastoril no Cerrado. Começamos pelas opções de agricultura e pecuária de mercado, que estão demasiado concentradas em poucas culturas. Soma-se a esse fator a dependência de fornecedores de equipamentos, insumo, tecnologias, que, por virem de outras regiões do país, não agregam riqueza aos povos do Cerrado. Dessa forma, ao utilizar uma máquina ou insumo, por exemplo, a economia do Cerrado transfere valores para outras regiões. Assim, muitas empresas produtoras geram riqueza no bioma, mas se apropriam dessa riqueza em outras localidades.

De maneira geral funciona assim: Planta-se o que vem de fora. É introduzido o que vem de fora. E colhe-se o que é levado para fora. A maior parte da geração dos produtos, que utiliza o Cerrado como substrato de plantio, é destinada à exportação e não ao bem estar das famílias que fornecem, praticamente, somente a mão de obra. O retorno social e econômico fica muito pouco na região. É preciso termos políticas diferenciadas voltadas aos interesses da sociedade enquanto moradoras vinculadas à este ambiente.

Então, quando você vislumbra no Cerrado todo um potencial econômico, ele é como um falso potencial econômico, pois não está associado, na sua grande maioria, ao fortalecimento das instituições na própria região. No fim, o Cerrado é apenas um prestador de serviço, um grande fornecedor de mão de obra para as áreas industrializadas do Sudeste, da Mata Atlântica e do litoral brasileiro. Ou seja, o que resta ao Cerrado é a parte mais desqualificada de todo o processo: a mão de obra.

Além disso, há um preconceito maléfico contra o Cerrado. Não é um preconceito de desconhecimento, e, sim, de orientação, destruição, do imediatismo e da falta de racionalidade do uso. A vegetação nativa do bioma está praticamente extinta. Pelos dados do Ministério do Meio Ambiente ( MMA ), hoje somente temos 50% com vegetação natural. Entretanto, do que ainda resta, 95% está alterada pela pecuária, pelo desmatamento seletivo e pelo desequilíbrio ambiental originário das áreas totalmente alteradas pela agropecuária.

Então, podemos observar que o Cerrado encontra-se hoje em um desequilíbrio muito grande e que nós, cidadãos, não nos demos conta. É preciso compreender que é possível, a partir da grande biodiversidade do Cerrado, utilizá-lo como fonte de geração de riqueza e novas oportunidades.

O Cerrado possui uma biodiversidade incrível, são mais de 12.500 espécies nativas e cerca de 40% delas endêmicas, ou seja, só existem neste bioma. E o aproveitamento correto dessas plantas, com suas potencialidades medicinais e gastronômicas, é um dos fatores fundamentais para melhorar a qualidade de vida das pessoas que aqui habitam. Falta apenas que sejam capacitadas para o uso correto da vegetação nativa e assim percebam que é possível gerar riqueza e possibilidades sem destruir o bioma.

Nesse sentido, é preciso fazer a contabilidade socioambiental e econômica, uma conta que dê qualidade de vida aos produtores e aproveitamento dos produtos gerados espontaneamente aqui no Cerrado. Para buscar mais respostas e rever políticas para o bioma, foram discutidas, nos dias 16 e 17 de novembro, em Brasília, propostas à Rio+20, a articulação de redes sociais e econômicas para incremento e implementação de políticas públicas e as atividades produtivas pautadas na conservação e preservação da sociobiodiversidade do Cerrado.

Donizete Tokarski é engenheiro agrônomo, presidente do Conselho da Agência Brasileira de Meio Ambiente e Tecnologia da Informação (Ecodata) e membro do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) e do Conselho Estadual do Meio Ambiente de Goiás

 FONTE:  O POPULAR 

Um comentário:

  1. Olá Donizete. Estamos também nesse caminho com o nosso projeto da Fava d´anta no norte de Minas Gerais. Por favor, gostaria que visitasse o blog: www.favadanta.blogspot.com. Se possível gostaria de trocar idéias com vc e convidá-lo para um seminário em Belo Horizonte.
    Obrigado.

    ResponderExcluir